Skip to main content

Alice Sales, estagiária de comunicação da Associação Caatinga, teve a oportunidade de conhecer a RNSA, em Crateús – CE, na companhia da equipe de comunicação da AC. O texto a seguir é um relato escrito por ela sobre a experiência vivida na Reserva.

Longas horas de estrada de asfalto e de terra, ausência de sinal de telefone e internet. Tudo isso se tornaria irrelevante diante de tudo o que ainda seria vivido dentro de dois dias de estadia na Reserva Natural Serra das Almas, Crateús – CE. Quando chegamos já estava escuro. Não foi possível ver, nesse primeiro momento, a paisagem do entorno do Centro Ecológico Samuel Johnson, situado na parte baixa da Reserva, onde ficamos hospedados na primeira noite. No entanto, o cheiro vindo do mato e o clarão das estrelas no céu, jamais visto na cidade, me traziam a sensação de que o dia seguinte seria inesquecível.

Em vez do despertador do celular, o canto da passarinhada que já madrugava lá fora foi a primeira toada do alvorecer. Amanhecer na Reserva Natural Serra das Almas foi, sem dúvidas, uma das melhores formas de começar o dia. Logo quis ver as paisagens que a noite havia escondido. Ao sair na varanda, me deparei com um passarinho laranja e preto, saltitando entre os galhos de um arbusto nativo. Era um corrupião (Icterus jamaicaii), cantando livre e feliz. Entendi isso como um desejo de boas vindas.

Olhei em volta e logo me dei conta de que estávamos rodeados por uma vasta e densa floresta. A Caatinga virgem, pura, conservada, que se perdia do alcance dos meus olhos. Que paisagem incrível! Ao fundo, a serra da Ibiapaba integrava o cenário. O tempo estava agradável e, por causa das chuvas que vêm abençoando o sertão nos últimos meses, a mata branca do período de estiagem, estava verde. Mal podia esperar até o momento de me aventurar pelas trilhas que nos levariam até as entranhas dessa mata selvagem.

No Centro Ecológico Samuel Johnson, tive a oportunidade de conhecer tecnologias sustentáveis que beneficiam cerca de 26 comunidades no entorno da Reserva, como o sistema de meliponicultura, cisternas de placa, sistema bioágua, forno solar e fogão ecoeficiente. Ainda pela manhã, seguimos para a sede da Reserva Natural Serra das Almas, localizada do planalto da serra. O clima lá em cima é mais frio, mas a paisagem da floresta fechada permanece exuberante. Logo, Préas (Galea spixii) e Tejus (Tupinambis merianae) começaram a sair da mata para transitar pelo jardim da sede. Pra quem é amante da natureza, observar o movimento livre de animais silvestres, em seu próprio habitat, é como um presente dos céus.

À tarde foi o momento de conhecer a trilha da Gameleira, a mais nova trilha da Reserva. Um percurso de 16 Km, ida e volta, mata a dentro. A riqueza em detalhes da flora da Caatinga pôde ser contemplada nesse momento. Árvores e arbustos dos mais diversos tamanhos, texturas e formatos. Flores de cores vivas pelo caminho e cheiros marcantes que se espalhavam pelo ar. No fim da trilha mais uma recompensa: a Gameleira. A mais alta árvore encontrada na Reserva Natural Serra das Almas, de galhos longos e robustos, que me fez questionar o quão somos pequenos diante da natureza. Sentados aos pés da grande árvore apreciamos o mirante, que nos permitiu ver do alto toda a imensidão da mata. No fim do dia, fui levada pelos meus colegas caatingueiros até a bica do Riacho Melancia. Nas águas da nascente, fui batizada como a mais nova caatingueira. Um momento marcante e bonito. O ritual simbólico é tradição entre os colaboradores e parceiros da Associação Caatinga.

No dia seguinte partimos de volta para Fortaleza (CE). Na estrada que nos leva até a porteira da sede, surgiu na frente do carro um Jacu-Verdadeiro (Penelope jacucaca). Parou, nos encarou e voou. Talvez quisesse nos dizer um “Até logo”. Voltei para casa com um sentimento de intimidade com a natureza e com a ideia ainda mais forte de que precisamos preservá-la. Trouxe no peito um contentamento inexplicável por ter tido o privilégio de conhecer a Reserva Natural Serra das Almas, reduto de inestimável biodiversidade do bioma Caatinga.

Confira essa e outras matérias na segunda edição da revista ACaatinga, clicando aqui.