Entre os dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro, a Associação Caatinga acompanhou a equipe do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, em uma consultoria sobre bioeconomia de produtos não madeireiros. A equipe do SFB conheceu três práticas realizadas no dia a dia da Associação Caatinga: o extrativismo da carnaúba, a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) e a coleta de sementes.
Segundo Tatiane Gomes, consultora em bioeconomia da Caatinga do SFB, “o objetivo dessa consultoria é gerar dados de iniciativas de bioeconomia que possam subsidiar a elaboração do Programa Nacional de Manejo Florestal e Bioeconomia da Caatinga, que é uma iniciativa do governo federal”.
Primeiramente, o grupo viajou até o Assentamento Aragão, uma comunidade rural de Miraíma (CE) que mantém uma parceria com a Associação Caatinga. Lá, a equipe conheceu detalhadamente o processo de extração da palha de carnaúba, desde a retirada da palha até a secagem em um secador solar, uma tecnologia inovadora para a região. Além disso, as artesãs da comunidade se apresentaram ao grupo.
De Miraíma, o grupo seguiu para a Reserva Natural Serra das Almas, em Crateús, onde a Associação Caatinga promove duas práticas sustentáveis e não madeireiras: a coleta de sementes nativas e a meliponicultura (criação racional de abelhas nativas da Caatinga). Durante a visita, os colaboradores do SFB visitaram comunidades rurais próximas à Serra das Almas e conheceram famílias parceiras da Associação Caatinga que atuam nessas cadeias produtivas.
“A Associação Caatinga atua no desenvolvimento local sustentável de comunidades rurais, mobilizando a população local e criando alternativas de geração de renda para os habitantes do semiárido. A ideia é gerar renda para as famílias da região por meio de atividades sustentáveis” explica Marília Nascimento, coordenadora de programas da AC.
Conheça as três cadeias produtivas apoiadas pela Associação Caatinga:
Extração do pó de carnaúba
A carnaúba é uma planta utilizada por comunidades nordestinas para múltiplos fins, como a confecção de artesanato com suas palhas e a extração de pó para a produção de cera. Dessa forma, a carnaúba é essencial para a área rural do nordeste, especialmente durante a época seca, quando o trabalho agrícola diminui e a produção de cera aumenta. Entretanto, embora a cadeia produtiva da carnaúba gere renda para milhares de famílias, ela enfrenta desafios, como condições precárias de trabalho e baixa inovação tecnológica.
Por isso, desde 2016, a Associação Caatinga tem trabalhado para desenvolver essa cadeia produtiva por meio de projetos, capacitações, diagnósticos socioambientais e implementação de tecnologias sustentáveis. A iniciativa mais recente foi realizada no Assentamento Aragão, promovida pelo Programa Carnaúba Sustentável: Fortalecendo a cadeia produtiva da Carnaúba, com o apoio do Grupo Boticário e a coordenação da VBIO.
Por meio do projeto, que promoveu capacitações, distribuição de EPIs e outras atividades, o Assentamento tornou-se uma comunidade de referência em boas práticas na extração da carnaúba. Um dos principais resultados do projeto foi a instalação do secador solar, uma tecnologia inovadora que aumenta o rendimento e a qualidade do pó cerífero em mais de 30%, além de proteger as palhas contra danos causados pelo clima.
Meliponicultura
A meliponicultura é a prática de criar abelhas nativas com ferrão atrofiado (conhecidas como “abelhas sem ferrão”). Trata-se de uma atividade agropecuária que contribui para a preservação das florestas e a polinização de plantas nativas, além de gerar renda para famílias do semiárido, uma vez que o mel produzido por esses insetos pode ser comercializado.
Outra vantagem da meliponicultura é a conservação das florestas. Por meio da polinização, as abelhas ajudam a preservar o meio ambiente e garantem a variabilidade genética de espécies nativas do semiárido. No Nordeste, a Jandaíra (Melipona subnitida) é uma das abelhas mais utilizadas na meliponicultura; no entanto, essa espécie está ameaçada de extinção.
Para proteger a espécie e gerar renda para comunidades nordestinas, a Associação Caatinga começou a disseminar a prática da meliponicultura nas comunidades ao redor da Reserva Natural Serra das Almas. Até o momento, a Associação já distribuiu 380 enxames de abelha jandaíra e 11 meliponários (local de criação das abelhas) para a região. Além disso, 407 pessoas foram capacitadas sobre o tema. As capacitações ocorrem nas comunidades, e os enxames são confeccionados e mantidos no meliponário da Reserva Natural Serra das Almas, que tem capacidade para 200 enxames.
Coleta de sementes
Com o objetivo de aprimorar o sistema de produção de sementes e gerar renda para famílias do sertão, a Associação Caatinga promove cursos e capacitações sobre técnicas de coleta e manejo de sementes da Caatinga. Atualmente, 16 pessoas realizam essa atividade nas comunidades ao redor da Reserva Natural Serra das Almas.
Para garantir uma finalidade financeira ao trabalho das famílias, a Associação Caatinga compra essas sementes e as utiliza para produzir mudas, que, por sua vez, serão destinadas a projetos de restauração florestal. Além disso, a atividade de coleta de sementes reforça o vínculo das pessoas com a Caatinga.
A Associação Caatinga já capacitou 144 indivíduos na coleta e manejo de sementes nativas da Caatinga, fomentando uma atividade que abrange conservação, entretenimento, educação ambiental e promoção do desenvolvimento sustentável.
Modelo Integrado de Conservação da Caatinga
Apesar de já ter desenvolvido trabalhos em mais de 60 cidades de cinco estados, a atuação da Associação Caatinga é realizada principalmente na Reserva Natural Serra das Almas, uma Unidade de Conservação da categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que possui 6.285 hectares e está localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI).
Além de gerir a Serra das Almas, a Associação Caatinga promove diversas iniciativas socioambientais em parceria com as comunidades rurais do entorno, como o desenvolvimento da cadeia produtiva da meliponicultura e da coleta de sementes, além de ações de educação ambiental e distribuição de tecnologias sociais para a convivência com o semiárido.
Com o objetivo de aproximar o trabalho de conservação realizado na Serra das Almas do desenvolvimento sustentável das comunidades, a Associação Caatinga criou o Modelo Integrado de Conservação da Caatinga. Essa estratégia busca proteger o bioma e promover o desenvolvimento das comunidades rurais ao redor da Serra das Almas. O modelo envolve 40 comunidades em projetos socioambientais, reconhecendo a importância de vincular a conservação da natureza e a convivência com o semiárido à geração de renda e ao progresso.