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No começo de fevereiro, a equipe do No Clima da Caatinga (NCC), projeto socioambiental realizado desde 2011 pela Associação Caatinga, visitou o Sistema Agroflorestal (SAF) “Recanto do Beija-Flor”, localizado em Viçosa do Ceará, para uma imersão prática e teórica sobre agroecologia e conservação da Caatinga. A atividade teve como objetivo principal promover a troca de experiências entre os integrantes do NCC, além de aprofundar o conhecimento sobre SAFs. A ideia é buscar formas efetivas de replicar essa técnica nas ações futuras do projeto.

A área “Recanto do Beija-Flor” é propriedade de Xico Antônio, analista de projetos socioambientais da Associação Caatinga. Ele e sua família acumulam uma vasta experiência com SAFs e técnicas de agroecologia, uma vez que, há anos, cultivam e produzem alimentos por meio dessa prática. Xico e sua família também atuam no beneficiamento e comercialização de produtos agroecológicos.

A programação da visita foi dividida em dois momentos principais: uma etapa prática, com implantação de SAFs e discussão sobre manejo agroflorestal, e uma etapa teórica, com reflexões sobre planejamento e sucessão ecológica dos Sistemas Agroflorestais.

Importância dos SAFs para o projeto No Clima da Caatinga

Cássia Pascoal, coordenadora de Relacionamento Comunitário e Educação Ambiental da Associação Caatinga, destacou a relevância dos Sistemas Agroflorestais dentro da proposta do projeto:

“o NCC atua a partir de uma estratégia chamada modelo integrado de conservação, que alia a preservação da natureza ao desenvolvimento sustentável rural e à geração de renda de comunidades rurais por meio da difusão de tecnologias sociais e técnicas de produção de alimentos sustentáveis. Dessa forma, estamos planejando inserir a disseminação de SAFs como uma possibilidade para as ações do projeto”.

Implantação do SAF

Durante o período da manhã, a equipe preparou o solo, estruturou berçários (buracos onde as mudas foram plantadas) e realizou adubação com esterco e pó de rocha. Na ocasião, a equipe plantou urucum, milho, fava e gergelim preto, junto a espécies adubadoras (plantas que fixam nitrogênio no chão e enriquecem o solo). A atividade foi finalizada com a cobertura do solo usando capim seco para conservar a umidade.

Planejamento e sucessão ecológica

No período da tarde, em uma roda de conversa, a equipe discutiu o processo de planejamento dos SAFs destacando o papel das plantas no equilíbrio do sistema e a importância de uma programação detalhada e enxuta para otimizar recursos durante o processo de construção e disseminação da técnica.

O que é um SAF?

Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são práticas sustentáveis de produção agrícola que integram cultivos agrícolas com componentes florestais, como árvores e arbustos, no mesmo espaço. Essa abordagem contribui para a recuperação e conservação do solo, além de favorecer a sucessão ecológica — o processo natural pelo qual as plantas se transformam gradualmente, aumentando a biodiversidade e a resiliência do ambiente.

Nos SAFs, diferentes culturas, como frutas, grãos e hortaliças, convivem de forma harmônica com árvores nativas ou frutíferas, criando um ecossistema mais equilibrado e saudável. No semiárido, essa técnica é especialmente valiosa, pois permite que os agricultores diversifiquem a produção em condições climáticas adversas e colaborem para a recuperação de solos degradados.

Além de promoverem a segurança alimentar das famílias, os SAFs também reduzem a dependência de insumos químicos e produtos industrializados. As famílias podem agregar valor aos seus produtos ao investir em beneficiamento, como a produção de polpas e doces a partir das frutas, a extração de óleos das sementes e a fabricação de chás e cosméticos naturais com ervas. Isso facilita a comercialização em feiras, mercados locais e programas governamentais, criando novas oportunidades de geração de renda.

Dessa forma, os SAFs se consolidam como uma solução para a produção agrícola sustentável e também como uma estratégia importante para o fortalecimento da economia rural e da conservação ambiental a longo prazo.