A Associação Caatinga (AC) deu continuidade às capacitações em boas práticas na cadeia produtiva da carnaúba realizadas no Assentamento Aragão. A comunidade rural, localizada em Miraíma, no Ceará, a cerca de 198 quilômetros de Fortaleza, é conhecida por desenvolver atividades ligadas à extração do pó das palhas da carnaúba, palmeira nativa do Nordeste. A localidade tem um longo histórico de projetos executados em parceria com a AC.
A capacitação, que integrou as ações do projeto Carnaúba Sustentável – Qualificação e Desenvolvimento Socioprodutivo nos Pequenos Negócios Rurais, teve como foco a elaboração de fichas de controle de rastreabilidade. A ferramenta permite acompanhar e registrar todas as etapas da produção do pó da carnaúba, fortalecendo a organização e a transparência do processo produtivo. Realizada no segundo semestre de 2025, a atividade deu sequência ao primeiro encontro formativo promovido junto à comunidade.
A capacitação abordou temas importantes para a construção da base de dados da comunidade, incluindo o reconhecimento do carnaubal, sua localização e coordenadas geográficas, além da organização das documentações necessárias tanto do grupo produtivo quanto dos membros da equipe de trabalho.
”A rastreabilidade gera confiança para o comprador, comprova que o produto é seguro e de qualidade e contribui para a valorização do pó da carnaúba
Rayana Vanessa, analista de projetos socioambientais da Associação Caatinga
A atividade teve início com uma dinâmica de integração sobre a relação dos participantes com a carnaúba, seguida pela construção coletiva de uma linha do tempo que resgatou a história do assentamento e da atividade extrativista local. Em sequência, foi apresentada uma exposição técnica sobre a importância da rastreabilidade como ferramenta para promoção de transparência, confiança e valorização do produto final.
Durante a oficina, foram introduzidas as fichas de controle das ações do carnaubal, que registram as etapas desde a extração da palha até a comercialização do pó da carnaúba, fases importantes para o registro de safra.
Os trabalhadores da carnaúba também aprenderam a calcular o tempo de permanência permitido dentro do secador solar, de acordo com a temperatura ambiente. O secador solar funciona como uma estufa que utiliza a energia do sol para acelerar a secagem e melhorar a qualidade do pó extraído das palhas, o que aumenta a pureza do produto. No entanto, as altas temperaturas alcançadas em determinados momentos do dia exigem cuidados no uso do equipamento.
Morador do Assentamento Aragão e participante da oficina, Francisco José Paiva Sousa avaliou que o aprendizado contribuiu para a organização do trabalho. Segundo ele, “foi interessante a gente aprender como preencher as fichas de acordo com cada atividade, com cada produto, com o nome dos trabalhadores”. Francisco também ressaltou a atividade prática no secador solar: “Agora a gente passou a ver melhor o horário que a gente pode realmente estar lá dentro e nos ajudou a entender melhor como se deve trabalhar com o secador.”
Rayana também explicou que a oficina integrou um processo contínuo de qualificação já vivenciado pelos agricultores, que apresentam um bom nível de organização e compreendem que esse é um caminho em construção. “Eles estão se preparando para, no futuro, buscar a certificação orgânica, qualificar ainda mais o pó da carnaúba e acessar novos mercados. Hoje, inclusive, já realizam venda direta para a indústria. E, para qualquer certificação, o primeiro passo é a rastreabilidade”, destacou.
A analista também ressaltou que a atividade teve como foco fortalecer as práticas ao longo de toda a cadeia produtiva da carnaúba, da extração à comercialização, com atenção especial aos registros e à identificação dos lotes. “Trabalhamos a importância das anotações e do acompanhamento de cada etapa da produção: desde a extração do pó, passando pelo beneficiamento no secador solar e na máquina, pelo armazenamento nas sacarias, até chegar à comercialização”, concluiu.
Próximas etapas do projeto
As próximas etapas do projeto “Carnaúba Sustentável” incluem a continuidade das capacitações e do acompanhamento técnico, que têm fortalecido a comunidade na adoção de boas práticas ambientais e produtivas. Esse apoio tem contribuído para a implementação das fichas de rastreabilidade nas safras e para o monitoramento das áreas mapeadas.
Os processos de rastreabilidade podem, futuramente, resultar na emissão de certificações da produção. O levantamento também permite uma identificação mais precisa das necessidades locais, como o controle da unha-do-diabo e a definição de áreas estratégicas para recuperação ambiental.
Projeto Carnaúba Sustentável
O projeto Carnaúba Sustentável, uma realização da Associação Caatinga, com o apoio do Sindcarnaúba e o patrocínio do Sebrae e da Fiec, busca fortalecer a cadeia produtiva da carnaúba por meio de formações, capacitações e assessoramento técnico. O objetivo é promover organização, produtividade e sustentabilidade nos pequenos negócios rurais da região, enfrentando desafios históricos da cadeia produtiva, como informalidade, falta de capacitação técnica e ausência de rastreabilidade.






