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Dona Antonia Gomes Bezerra e Dona Antônia Elisabete de Sousa Soares têm mais em comum do que apenas o nome e a comunidade onde vivem. Moradoras de Jatobá Medonho, uma área rural do município de Buriti dos Montes (PI), suas histórias de vida se entrelaçam com a trajetória do projeto “No Clima da Caatinga” (NCC), que tem transformado a realidade de diversas famílias no semiárido nordestino.

Antes do projeto, tanto Dona Antonia quanto Dona Elisabete enfrentavam os desafios de convivência com o semiárido. “Nós íamos buscar água na cabeça pra lavar roupa, pra tudo,” relembra Dona Antonia. “Sem água, a gente não vive,” conclui, enfatizando a importância desse recurso em sua vida. 

Dona Elisabete compartilha uma experiência similar: “Eu chegava muitas vezes a convidar meu marido para procurar um lugar com mais água.” O desejo de buscar um local com mais água se intensificou quando Dona Elisabete descobriu que estava grávida. “Eu nasci e me criei aqui no Jatobá Medonho, mas, por aqui, água sempre foi muito difícil; aí em 2014 eu engravidei e foi quando eu chamei meu marido para a gente se mudar e procurar uma outra comunidade que tivesse água,” ela lembra. A perspectiva de criar uma filha em um ambiente com dificuldades hídricas a enchia de medo.

A transformação de suas vidas começou quando elas se tornaram participantes do projeto “No Clima da Caatinga”, iniciativa realizada pela Associação Caatinga e patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Desde 2011, o projeto tem o objetivo de diminuir os efeitos potencializadores do aquecimento global por meio da conservação do semiárido, desenvolvendo um modelo integrado de conservação da Caatinga.

Jatobá Medonho, onde moram Dona Elisabete e Dona Antonia, está situada nos arredores da Reserva Natural Serra das Almas, unidade de conservação localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI). Essa área protegida tem 6.285 hectares de extensão e é um dos pontos-chave da relação entre as duas sertanejas e o projeto No Clima da Caatinga.

A Serra das Almas é gerida pela Associação Caatinga, ou seja, a instituição que realiza o No Clima da Caatinga. Dessa forma, tanto Dona Elisabete quanto Dona Antonia estão no raio de atuação da projeto, uma vez que as iniciativas do NCC alcançam, principalmente, as 40 comunidades rurais que estão ao redor da Serra das Almas.

O NCC atua por meio de sete linhas de atuação: criação e gestão de áreas protegidas, restauração florestal, fomento a políticas públicas, educação ambiental, comunicação, pesquisa científica e disseminação de tecnologias sociais. Esta última linha de atuação é a que mais marcou a história entre o projeto e as duas sertanejas, uma vez que, a partir do apoio do projeto, Dona Antonia recebeu uma cisterna de placa, um fogão ecoeficiente e um canteiro bioséptico (tecnologia que realiza o tratamento natural do esgoto doméstico). Dona Elisabete, por sua vez, recebeu a cisterna, o forno solar, o fogão e o canteiro.

Essas tecnologias sociais trouxeram uma nova esperança. “Deus é tão bom que mostrou essas pessoas no meu caminho, esse projeto maravilhoso,” diz Dona Elisabete. A cisterna cheia de água representou uma virada significativa em sua vida: “Isso já me trouxe uma tranquilidade muito grande porque, né? Aí a gente continuou aqui, morando em Jatobá Medonho. Depois da nossa cisterna nunca mais faltou água. Sou muito feliz por ter sido beneficiada com essa cisterna.” O medo de criar sua filha em meio a dificuldades hídricas deu lugar à tranquilidade de ter milhares de litros de água potável armazenada, disponível sempre que necessário.

Após receber o fogão ecoeficiente, Dona Antonia também viu sua realidade mudar dentro de casa. Sertaneja que passou 28 anos cozinhando no fogão a lenha tradicional, ela suportava o calor intenso e respirava a fumaça da madeira queimada, enfrentando inúmeras dificuldades diárias, mas o dia a dia na cozinha mudou com a chegada da tecnologia.

“Foi uma bênção porque a gente ficou livre de fumaça, de tanta quentura, tanta coisa,” relata. Com o fogão ecoeficiente, sua vida transformou-se significativamente. “Com uns cinco pauzinhos de lenha já dá para cozinhar, porque antes gastava muito mais lenha,” diz Dona Antonia, destacando a eficiência energética e sustentável do novo fogão.

Pesquisas indicam uma economia de até 64% no consumo de madeira comparado ao fogão a lenha convencional. Além da eficiência energética, o fogão ecoeficiente também reduz os riscos de doenças respiratórias, pois uma chaminé direciona a fumaça para fora da casa. Sem a fumaça dentro da residência, desaparecem tosse, gripe e alergias. Outra vantagem desta tecnologia é que as panelas não queimam e a comida não fica com cheiro de fumaça.

Protagonistas de Uma Nova História
Reconhecendo o impacto profundo em suas vidas, o NCC decidiu convidar Dona Antonia e Dona Elisabete para serem as protagonistas do documentário “NCC: Histórias de Mudança”. Lançado no YouTube, o filme narra a trajetória do projeto e celebra suas conquistas no desenvolvimento sustentável das comunidades da Caatinga.

Realizado desde 2011, o “No Clima da Caatinga” tem sido uma força de mudança positiva na região. O documentário, contudo, homenageia o encerramento da quarta fase do No Clima da Caatinga, que durou três anos, de 2021 a 2024. Durante esse período, a iniciativa alcançou diversos marcos para a região semiárida. 

Ao total, o projeto alcançou diretamente 33.309 pessoas por meio de ações socioambientais, criou duas unidades de conservação, realizou o plantio de 10.100 mudas, contribuiu para a proteção de espécies ameaçadas de extinção, como o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), a guariba-da-caatinga (Alouatta ululata) e a onça-parda (Puma concolor), bem como proporcionou, por meio da preservação da Reserva Natural Serra das Almas, 1.647.245 toneladas de carbono estocado e o escoamento evitado de 4.8 bilhões de litros de água por ano, o que equivale ao abastecimento de 300 mil cisternas de placa com capacidade de armazenamento de 16 mil litros cada uma.

Um Futuro Sustentável
As histórias de Dona Antonia e Dona Elisabete são apenas duas entre muitas que ilustram o impacto do NCC. Ao distribuir tecnologias sociais, como cisternas de placas e fogão ecoeficiente, o projeto melhora a qualidade de vida dos moradores, mas também promove a conservação ambiental e a sustentabilidade na Caatinga.

Para essas mulheres e suas comunidades, a participação no “No Clima da Caatinga” representa mais do que uma simples mudança; é uma transformação completa de vida e uma esperança renovada para o futuro.

Foto de capa e destaque: Fábio Arruda – Barong