Essa foi à vez de Sobral ser palco do primeiro dos três encontros já marcados para a segunda fase do Diálogos da Carnaúba para o ano de 2018, uma ação que é parte do Projeto Carnaúba Sustentável. Na manhã do dia 25 de maio, no SESI de Sobral, a 201,15 km de Fortaleza, reuniram-se diversos atores que participam ativamente da cadeia produtiva da cera da carnaúba. O Projeto ao longo do ano tem como eixos temáticos de seus encontros a regularização das relações de trabalho e segurança do trabalhador na extração da cera e a produtividade no extrativismo.
Na ocasião, aconteceram três oficinas: A primeira foi ministrada pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário – SDA, representada por Marcílio de Melo, apresentando a tecnologia sustentável do Secador Solar. Ministrada pela COETRAE (Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo), representada por Demitri Cruz, aconteceu à oficina “Formalização das relações de trabalho no campo, condições de trabalho digno e aposentadoria rural”, que buscou levar ao público um maior entendimento sobre o processo de contratação de turmas de trabalho nos carnaubais e Jorge Luiz, engenheiro agrônomo, ministrou a oficina sobre “Saúde e segurança do trabalho no extrativismo da carnaúba” discutindo sobre os materiais de segurança indispensáveis ao trabalhador da carnaúba.
A matéria-prima: Carnaúba
De inumeráveis utilidades e com um ciclo de vida bastante longo, essa palmeira bem peculiar ganhou o saudoso apelido de “árvore da vida”. Árvore-símbolo dos Estados do Ceará e Piauí foi descrita pela primeira vez em 1648, quando os desbravadores europeus identificaram logo no início que a Copernicia prunifera era uma fonte de cera de grande utilidade, especialmente na fabricação de velas. Os indígenas, por sua vez, já conheciam a árvore, e então, pelo formato do tronco resistente e irregular, deram-lhe o nome pelo qual essa palmeira nativa do Bioma Caatinga ficou conhecida: Carnaúba, do Tupi, “a árvore que arranha”.
A cera, com seu produto rentável e ecologicamente sustentável faz parte do mecanismo natural de proteção e adaptação da planta ao clima Semiárido. Ela aumenta nos longos períodos de estiagem, para impedir a perda de água, exatamente quando o agricultor familiar deixa de produzir pela escassez de chuvas. Atualmente, a sua utilização vai desde a indústria cosmética até mesmo a aeroespacial, com uma passagem relevante pela farmacêutica.
Rotina
Aproximadamente entre os meses de julho a fevereiro a rotina é a mesma para quem trabalha no ciclo da extração. O cortador (da palha) usa um instrumento (vara) com uma foice (ou objeto cortante) na ponta, para cortar a palha, recolhidas, as folhas são postas para secar ao sol, etapa insubstituível para o desprendimento do pó, que é feito por outro eficiente processo secular, o do batimento das folhas.
Antigamente, o pó era cozido e coado em grandes prensas de madeira. O resfriamento, então, era feito em tanques rasos, depois disso o produto era quebrado em pedras de cor amarelo esverdeada ou marrom escura. Essa era a cera bruta, pronta para o beneficiamento. Hoje a maior parte do pó vai direto para a indústria para ser transformada em cera tipo exportação.
Secador Solar
O equipamento foi pensado para dar rapidez e melhorar o processo antigo de secagem. O secador é montado em uma estrutura metálica cujas paredes laterais e coberta são feitas de plástico flexível e resistente ao vento, chuva e temperatura elevada. Na coberta é colocado um exaustor e o piso de dentro é recoberto com lona plástica. O secador solar funciona como uma estufa, tendo entrada e saída de ar, para trocar o ar aquecido de dentro do secador pelo ar ambiente.
As palhas são submetidas a elevadas temperaturas, aproximadamente 65°C no secador solar. Durante o dia, perdem umidade para o meio externo, através do exaustor colocado na parte central e superior do secador solar.
As palhas estão secas normalmente em torno de 48 horas, dependendo das condições de insolação, sendo geralmente mais eficaz o processo nos meses de setembro a dezembro.
Vantagens desse processo:
– Há um aumento no rendimento do pó e a palha não fica úmida;
– Não permite que haja mistura com outros resíduos (areia, barro etc.);
– O vento não dispersa o pó e caso venha a chover, a palha não apodrece;
– Reduz o tempo de secagem e não há necessidade de desmontar e remontar os feixes;
– Ocupa pouco espaço;
Formalização de trabalho
O representante da câmara setorial da Carnaúba, Edgar Gadelha, destacou que, na época da safra, a produção paga a melhor diária no campo em relação a outras culturas, com reconhecimento, inclusive, pelo Ministério Público do Trabalho, garantindo sempre sustentabilidade. A matéria-prima sai do campo e vai para a indústria, onde é refinada e exportada. Edgar afirma também que o setor exporta cerca de 120 milhões de dólares/ano de divisas para os Estados.
A cera da carnaúba é exportada há mais de 150 anos e esteve entre os dez produtos mais comercializados fora do País e ainda está entre os mais exportados do Ceará. É um extrativismo sustentável, pois, em nenhum momento da sua cadeia de produção a palmeira é degradada. É feita uma poda e a copa se regenera, num ciclo anual. E foi comprovado que uma palmeira que é podada todo ano tem a longevidade aumentada.
Projeto Carnaúba Sustentável
O “Projeto Carnaúba Sustentável: Cadeia produtiva sustentável e tecnologias sociais” pretende estreitar as relações na cadeia produtiva da extração da Carnaúba e é fruto de uma parceria da Associação Caatinga e SINDCARNAUBA. A intenção do Sindicato é contribuir para que a extração da cera da Carnaúba seja cada vez mais sustentável e respeite a natureza e o trabalho do homem. Ao longo do projeto, estão sendo realizadas oficinas que apresentam os desafios e soluções para o setor. Além disso, o projeto está financiando a implantação de tecnologias sociais em comunidades carnaubeiras de Granja e Morrinhos. Até o final do ano, pelo menos 54 famílias terão sido beneficiadas por cisternas de placa, fogões ecoeficientes e sistemas bioágua de reuso das águas cinzas (aquelas usadas na lavagem da louça, roupas e banho) para a produção de alimentos. A implantação das tecnologias visa melhorar a qualidade de vida das famílias, contribuindo para a segurança hídrica e alimentar e reduzindo a vulnerabilidade social.
Entre 2016 e 2017, 59 famílias foram alcançadas por essas tecnologias no município de Crateús.