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Ser Tão Feminino – Um agradecimento às mãos das mulheres sertanejas

Preparando o terreno…

Mãos. Membros estratégicos para quem vive na Caatinga. Mãos. Mãos femininas. Mãos companheiras. Que partilham lutas, vitórias, chuvas e secas. Mãos que abraçam. Mãos que perdoam. Mãos que estocam. Cuida. Aproxima. Mãos que indicam sinais de nervosismo, euforia. Mãos que constroem.

Afinal, o que há para dizer sobre o “sertão” que não foi dito? Muito. Quem mora no sertão não ri, não se emociona, trabalha, constrói, conhece, descobre? Ainda mais quando nos dedicamos a falar delas. Mulheres. Fortes. Representativas. Determinantes no espaço em que vivem.

Nós, mulheres costumamos dizer que temos um jeito próprio de fazer as coisas, de produzir conhecimentos, de discutir muito nossos processos antes de executá-los e de encontrar diferentes formas de convivência em nossa casa, em nossas organizações, no nosso cotidiano e nos diferentes contextos, a exemplo da Caatinga.

Para a mulher sertaneja, a Caatinga é fonte insubstituível da matéria-prima da vida. Madeira. Água. Alimentos. Fitoterápicos. Com elas, podemos apreender um outro espectro da Caatinga.

Por um sertão mais perfumado…

Na tentativa de sintetizar a riqueza do processo de vivências e de saberes da Caatinga exercido por essas mulheres é que direcionamos nossas lentes para o interior do Ceará, bem no Sertão de Crateús, região semiárida composta por treze distritos. Lá, conhecemos três perfis de mulheres que fazem da sua rotina, um exemplo de bem-viver.

A primeira que visitamos foi ‘Dona’ Antônia Generosa, 59 anos, agricultora e moradora da comunidade de Pendência em Crateús. Dona Antônia é cuidado. Zelo. Harmonia. É de uma simplicidade e beleza singulares. Sua casa é de uma organização ímpar. Os sons ouvidos pelos pequenos animais criados em seu terreiro nos trazem a nostalgia do conforto e sossego da casa de vó. Com ela você entende que ‘Dona Generosa’ não se limita apenas ao seu nome, a generosidade é seu estado de espírito. Ali é seu lugar. Carrega em sua face às marcas de lutas, mas também os sorrisos de estar onde se quer estar.

Dona Cleide Nascimento, 48 anos, agricultora, dona de casa e moradora do Assentamento Xavier, em Crateús. Cleide traz em seu rosto a mocidade e a tranquilidade de ser e estar imersa à Caatinga. Como as várias mulheres do nosso sertão, bem com Dona Generosa e Dona Núbia (que falaremos no próximo parágrafo) cultiva em seu quintal produtivo hortaliças que enchem de sabores todos os dias suas panelas. Hortaliças cultivadas pelas mesmas mãos que constroem. Alimentam. Acalmam e zelam por cinco homens. Quatro filhos e seu marido.

Falemos de Dona Núbia Cardoso, 51 anos, agricultora, dona de casa e moradora da comunidade Santa Luzia. Núbia é dona de um sorriso largo e fácil. Carrega uma garra característica da mulher sertaneja. É pura energia. Em suas mãos carrega o cuidado, principalmente, pelo seu quintal. Não desanimou nesses últimos anos de estiagem. Seu quintal mais parece às paisagens de sua alma. Florido, florido. E floresceu produzindo frutas, hortaliças e ervas medicinais. Em sua casa, vemos que na Caatinga o que prevalece é a conexão. Tudo se conecta. A água necessária vem de um reaproveitamento das águas cinzas utilizadas em sua casa. Pura sustentabilidade.

Núbia destaca que a segurança alimentar da família e dos animais é garantida em uma porcentagem de 80%%, sem desmatar ou queimar a Caatinga.

Em meio a esse cenário, aguça-nos a possibilidade de descortinar um novo horizonte feminino, construído por mulheres que não assumiram apenas a condição de vítimas, mas, sobretudo, influenciaram a configuração de novas formas de poder, ampliando seus espaços e papéis de atuação.

Destacamos as mãos, como objeto desse texto, mas sabemos que o que move essas mãos é o mesmo sentimento de pertencimento. De ser, estar e ter orgulho de ser mulher Caatingueira.